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Abaixo de R$ 2: preço do arroz não para de cair nas prateleiras dos supermercados em SC
Agricultores e indústrias vendem abaixo do custo e acumulam prejuízos milionários
A tendência é que, já no final de semana, os consumidores encontrem o quilo do arroz abaixo de R$ 2. Uma boa notícia para o consumidor, mas nem tanto para a indústria e para os produtores.
Jadson Orige de Souza, gestor de negócios da Rede de Supermercados Moniari, com lojas distribuídas na região Sul de Santa Catarina, explica que o preço caiu praticamente pela metade em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2024, 5 quilos do grão custavam cerca de R$ 24.
Hoje a gente encontra oferta no mercado a R$ 10, R$ 12. A previsão é que a partir deste final de semana tenhamos queda no preço do arroz, que ficará entre R$ 1,99 e R$ 2,30, pondera.
Mesmo barato, consumo permanece estável
A queda brusca no preço do arroz não aumentou o consumo do produto. Esse é, inclusive, um dos dilemas do setor, que enfrenta muita oferta para pouca demanda. Souza relata que os consumidores não se sentem atraídos a comprar mais e usam a diferença no valor para incrementar a compra de outros itens.
A dona de casa está acostumada a comprar 1, 2 quilos e não vai aumentar a sua compra porque teve uma supersafra e o valor caiu. Não é que tem pouca procura, a procura se mantém, só que é muita oferta. E para o produtor esvaziar os silos, ele vai ter que fazer o quê? Abaixar o preço. Isso é a consequência, argumenta.
A queda no preço também reflete a medida assinada pelo governador de Santa Catarina, Jorginho Mello, que zerou a cobrança do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) em seis itens da cesta básica, entre eles o arroz. A medida entrou em vigor em 1º de setembro.
Arroz encalhado preocupa produtores
Santa Catarina é o segundo maior produtor de arroz do Brasil, atrás apenas do Rio Grande do Sul. De acordo com dados do SindArroz (Sindicato das Indústrias de Arroz de Santa Catarina), são 147 mil hectares destinados à produção do grão em solo catarinense, responsável por mais de 10% do abastecimento nacional. A maior parte dessa produção ocorre na região Sul.
A estimativa é que o setor movimente cerca de R$ 1 bilhão ao ano, com aproximadamente 150 mil empregos distribuídos entre o campo e a indústria. Walmir Rampinelli, presidente do SindArroz, analisa o cenário com preocupação e não vê, no momento, uma luz no fim do túnel. O excesso de estoque chega a 2 milhões de toneladas.
Não vai resolver o problema agora. Algumas federações de produtores estão incentivando os agricultores a não plantarem na próxima safra ou diminuírem a área plantada. Eu não sou tão favorável, porque a gente precisa produzir mais para alimentar mais, pondera.
Conta não fecha
Em setembro, a saca com 50 kg foi cotada a R$ 65, valor abaixo do custo de produção. Algumas indústrias registraram preços na faixa de R$ 58 e, aquelas que estocaram grande volume de arroz no período de alta, enfrentam os maiores prejuízos e desafios.
Algumas indústrias estão com muito estoque e não conseguem repassar. Imagina o estoque feito com o arroz a R$ 100 e agora tendo que repassar a R$ 60. Olha o prejuízo que dá, lamenta o presidente do SindArroz.
As soluções para equilibrar o preço do arroz
Para reduzir o estoque, equilibrar o preço do arroz e dar fôlego ao setor, o presidente do SindArroz aposta em três vertentes:
Formação de estoque regulador
Aumento do consumo
Expansão das exportações do arroz beneficiado
A medida mais rápida e eficiente seria a formação de um estoque regulador, como já foi feito pelo Governo Federal durante a pandemia de Covid-19 e nas enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024.
A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) realizou, em agosto deste ano, leilões de Contrato de Opção de Venda para formação de estoque regulador. Cerca de 109,2 mil toneladas do grão foram negociadas, segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Agricultura Familiar.
Na avaliação de Rampinelli, a quantidade é insuficiente para resolver o problema. O governo poderia colocar no seu estoque em torno de 2 milhões de toneladas. Isso seria suficiente para equilibrar todo o processo. Nós iniciamos também uma campanha de aumento de consumo, mas essa campanha não traz resultados imediatos, ela traz resultados a longo prazo, sustenta.
Pesquisa encomendada pela própria Conab confirmou a mudança no consumo doméstico de arroz no Brasil. O levantamento mostrou que a safra de 2018/2019 gerou consumo de 10,8 milhões de toneladas. Já a safra de 2023/2024 teve um consumo 2,8% menor. A safra atual produziu 12,3 milhões de toneladas, mais que o suficiente para abastecer o mercado nacional.
Exportação é solução a médio prazo
Ampliar a presença do arroz brasileiro no mercado externo é o grande desafio para o setor arrozeiro. Para o SindArroz, esta é a saída mais eficiente para escoar a produção e equilibrar os preços, que têm sido o maior fantasma para produtores e para a indústria beneficiadora do grão.
Se hoje tivesse exportação de arroz em casca, iríamos exportar, até porque não estamos escolhendo muito, mas se a gente trabalhar a exportação do arroz beneficiado com marcas brasileiras ou as marcas dos importadores, nós teremos continuidade na exportação. Isso vai enxugar o mercado, argumenta.
De acordo com a Abiarroz (Associação Brasileira da Indústria do Arroz), o arroz beneficiado representou 99,7% das exportações brasileiras em janeiro de 2025, somando 112,3 mil toneladas. As negociações geraram receita de US$ 35,8 milhões. O volume é considerado pequeno pelo SindArroz.
Os principais destinos foram Senegal, Gâmbia, Peru, Cabo Verde, Estados Unidos, Cuba, Uruguai, Serra Leoa, Trinidad e Tobago e Chile.
Fonte: ND+
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